segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os anjos não voam...

Que todo vício é funesto, é certo. Porém pior que o da bebida, sem dúvida é o jogo. Os gringos adoram o tal de Poker, mais em Mirabela da Serra o que corre rasgado e sem tropeço é a Caixeta.

Em geral, as terças feiras à noite na venda “Nepadequá”, que possui este nome por causa de uma musica que o Olímpio Espanhol uma vez escutou na voz de Edith Piaf. Apaixonado e sem saber nada de Frances, mandou fazer a placa do único jeito que ele sabia falar.

E era lá no fundo, bem escondido, atrás das prateleiras de enlatados que o carteado comia solto. Afinal se jogo de azar é proibido neste país aqui também era. Mas até o delegado Prudêncio aparecia vez em quando para levar uma “fézinha”.

Muita gente graúda desta cidade perdeu dinheiro ali. Até mulher foi apostada na ânsia de sair ganhando. Foi o caso do dono da Botica, que apostou e perdeu. Se pagou a aposta ninguém sabe. Mais que toda vez que ele vai buscar remédio na capital, o Tião Gogozinho fica todo vistoso e mais enfeitado que cavalo de cigano... Ah!Isto é verdade.

O único problema em apostar a esposa é que às vezes ela pode gostar e ai é que mora o perigo.

Dizem que uma noite um morador acordou de madrugada completamente afônico e mal conseguindo falar. Morrendo de dor na garganta foi até a botica, onde o farmacêutico morava em cima e ao bater na porta a mulher do mesmo abriu a janela.

_ O farmacêutico está? Perguntou já quase sem voz.

_ Não. Respondeu bem baixinho a mulher. _Sobe rápido!!!

Neste cassino improvisado o único que nunca botou os pés foi Padre Clovis, e nem por isso deixou de ser indiretamente afetado. Explico por que:

Acontece que os compadres Gumercindo e Aparício perderam uma nota preta naquela noite e sem dinheiro para honrar o empenho decidiram por uma solução desesperada. As prendas e doações para a quermesse junina eram guardadas no porão da igreja. Os dois não pensaram duas vezes. Em dois tempos já estavam La dentro, numa escuridão danada, procurando o baú de oferenda.

Só não contavam com o sono leve do padre que acordou com aquela barulheira toda e sem pestanejar correu á escada de carabina de chumbinho a mão e já gritando:

_ Quem tai?

Após alguns momentos de silencio, um dos compadres gritou: _ Né ninguém não seu padre, é só dois anju!

_ Se é anjo então voa!!! Desafiou o padre já engatilhando o trabuco.

_ Dá não seu padre, nois ainda é fiote. Responderam já ganhando a rua pela mesma janela que entraram e se perdendo na noite de Mirabela da Serra, noturnamente prateada pelo sorriso da lua.

Que JC ilumine!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Prosa de papagaio...

Quente! A tarde caia encalorada em Mirabela da Serra. O sol não arredava o pé. A brisa era tão fraca que nem cosquinhava o sovaco do Jatobá da praça da matriz, para que ventilassse um pouco de aragem, na tentativa funesta de afastar para longe aquela sensação abrasadora.

Foi neste clima, que a noitinha foi chegando e como sempre, para comemorar esta hora santa, mal terminava os últimos acordes da tradicional execução da Ave Maria de Gounod na Rádio Mirabelaserrense, e já a maioria das mentes pensantes daquele emergente município dirigiam-se faceiros a Venda do Olimpio Espanhol.

Entre um aperitivo e outro, divagavam sobre os mais diversos assuntos. O colóquio passeava por entre as últimas do prefeito Idalício Porqueiro dentre varias outras proezas aprontadas por outras ilustres autoridades da região.

Ali se falava de tudo. Política, futebol, política, namoricos, política, causos e não menos, política.

Até Padre Clovis, ao fim da missa dava uma passadinha no empório, com a desculpa marota de descobrir quem cabulou a liturgia, mas que na verdade era para dar dois dedinhos de prosa degustando um cálice de uma boa cachacinha que por lá se encontrava. Não que se intrometesse em assuntos mundanos. Ficava por ali na dele limitando-se a expressar alguns “hum-hum” juntamente com outros tantos “ah-ah”.

O pároco era sempre muito comedido em suas opiniões, porém com certeza, o mais discreto de todos daqueles integrantes sempre fôra o sábio velho Irineu Jurupoca. Ficava ali no canto, assuntando tudo que era falado no distinto recinto, só observando, sem opinar em nada. Ele não era contra nem a favor, muitos antes pelo contrário. Talvez por isso tenha ganhado a alcunha de sábio, pois aprendera que temos duas orelhas e uma boca, portanto devemos escutar mais do que falar.

E foi ele, que de certa feita escutava atento ao causo contado pelo Alfredo, sobre um papagaio de nome Gugu que possuía quando criança.

_ Meus pais e eu morávamos no primeiro andar e meus avôs na parte de cima da casa. Quando precisavam falar comigo, meu avô assoviava um Silvo breve durante alguns segundo e eu sempre respondia: _ Senhor? Era quando meu avô passava o recado - Falava o Alfredo.

_ O engraçado – continuava ele – que certa vez eu saí e meu avô, precisando falar comigo, foi na janela e assoviou. Ao que o papagaio respondeu: _Senhor?

_ Meu avô então passava o recado, porém o papagaio não se manifestava, limitava-se apenas a repetir: _ Senhor?

Depois de certo tempo, meu avô desconfiado virou para minha avó e disse: _ Oh Ruth... Eu acho que to conversando com um papagaio!!!

Ainda estavam todos rindo, quando Irineu Juropoca disparou:

_ Nossas autoridade tão que nem seu papagaio.

_ Como assim? Indagou Alfredo.

_ Nós, o povo vivemos assoviado nossas necessidades e eles como papagaios ficam só repetindo: _ Senhor?

_ E o pior,- arrematou ele - é que muitas vezes não é por desonestidade não. Afinal eles só tão repetindo o que aprenderam com seus antecessores. Né safadeza não...Eles só sabem fazer aquilo... É falta de competência mesmo!

Mais uma vez a juropoca piou e piou bem...

Que JC ilumine!