segunda-feira, 2 de abril de 2012

A lua por testemunha...


Lá estava ela. Cheia de si. Lascivamente nua, entregando-se a todos sem nenhum pudor. Dos apaixonados arrancava suspiros e dos abandonados, lagrimas. Esta era a lua que reinava naquela noite no firmamento de Mirabela da Serra, testemunhando ao longe as agruras de seus eternos súditos.

E foi nesta mesma noite, que Tião Laço Firme, o rei dos vaqueiros daquelas bandas, após sorver sua última garrafa de cachaça, reparou naquela gloriosa lua dourada que repousava no fundo da lagoa da Fazenda do coronel Delécio.

Não se apercebendo de que se tratava apenas de um reflexo, Tião tratou de chamar a vaqueirada para que juntos seqüestrassem somente para eles, aquela belezura de jóia perdida no céu.

— O vaqueiro mais forte agarra-se a esta árvore — apontou Tião. — E o segundo mais forte agarra-se à mão dele, alcança a água e pega esta lua brioza.

Assim fizeram, mas o segundo assecla não conseguia alcançar o intento.

Chamou então outro e mandando agarrar à mão do segundo ordenou buscar o astro.

Mas a lua danadinha, persistia em continuar fora do alcance deles que nesta hora já formavam uma corrente, cada um pendurado no braço do outro.

E a lua continuava lá, impávida, apenas a observar tal moçoila casamenteira aquela ensandecisse toda.

Tião não se dando por vencido ordenou que os homens continuassem a descer até junto da lagoa... E assim continuaram… Cinco… Sete… Nove… Vaqueiro após vaqueiro, até que o último conseguiu tocar a superfície da água.

— Conseguimos! — gritaram eufóricos.

— Serei o primeiro a agarrá-la! — gritou Tião, abestando carreira abaixo.

Mas como era de se esperar, o peso de toda aquela loucura tinha-se tornado demasiado para as forças do primeiro homem, que continuava agarrado ao topo da árvore e quando Tião Laço Firme ia tocar o reflexo na água, o primeiro vaqueiro não suportando mais o colossal esforço largou o tronco... Um a um, caíram todos na lagoa e afogaram-se.

Ao saber do acorrido, o velho Irineu Jurupoca após uma longa baforada matutou sabiamente: - Aquele que se deixa liderar por um bocó é mais bocó que o próprio bocó.

Ainda bem que bocós que querem abraçar a lua só existam em Mirabela da Serra, não é mesmo?

Que JC ilumine!