segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Continuo querendo...

Alguns lugares possuem um toque peculiar para certos eventos. São ambientes ideais para momentos especiais. Pensa-se em lua de mel, lembra-se de Paris. Ano novo, lembra-se Copacabana. Mas carnaval, só lembra-se do Rio quem nunca o passou em Mirabela da Serra.

Não por questão de beleza, pois o Rio é a Cidade Maravilhosa, e sim pelo ambiente descontraído e agradável proporcionado ao turista daquela aparentemente bucólica cidade.

A folia impera o dia todo, e a noite, “pernas pro ar que ninguém é de ferro”. E foi neste ambiente de total alegria que o Honório da oficina enfeitou todinho seu Ford Bigode para participar do corso no centro da cidade. Além de muitas plumas e paetês, pintou no pára-choque a seguinte frase: “Eu quero é rosetar”. Feliz da vida saiu todo célere em direção a festa.

O coitado mal entrou na cidade, e o guarda Abelardo o abordou: - Que pouca vergonha é esta? Então você não sabe que rosetar é palavreado obsceno para uma cidade de família como a nossa? Vai arrancar esta indecência agora mesmo!

Chateado da vida, lá se foi o cabisbaixo Honório retornando para casa para executar a ordem da autoridade.

Para desmoralização do guarda Abelardo, três horas mais tarde, entra ele na praça com o carro todo enfeitado e escrito no pára-choque: “Continuo querendo”

Mesmo por que, aquela atitude do guarda era bem descabida, pois todos sabiam que no carnaval se perdia totalmente a compostura naquele distrito. A pouca vergonha era tanta que se peito de moça fosse buzina ninguém dormia na cidade. A situação chegou num ponto tão insustentável que padre Clovis ameaçou denunciar o delegado Prudêncio na corregedoria por conivência com aquela sodomia.

Imediatamente o comissário mandou afixar uma placa na Praça da Matriz com os seguintes dizeres:

“A partir desta data será considerado atentado ao pudor todo o tipo de prevaricação realizado em via pública e serão aplicadas as multas para as infrações abaixo relacionadas:
Mão naquilo.......................R$ 50,00;
Aquilo na mão....................R$ 60,00;
A boca naquilo...................R$ 75,00;
Aquilo na boca...................R$ 90,00;
Aquilo naquilo....................”Tá preso.”

Nesta noite a cidade dormiu silenciosa que foi uma maravilha. Até o bordel estava vazio. Lotado mesmo só a delegacia...


Que JC ilumine!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os anjos não voam...

Que todo vício é funesto, é certo. Porém pior que o da bebida, sem dúvida é o jogo. Os gringos adoram o tal de Poker, mais em Mirabela da Serra o que corre rasgado e sem tropeço é a Caixeta.

Em geral, as terças feiras à noite na venda “Nepadequá”, que possui este nome por causa de uma musica que o Olímpio Espanhol uma vez escutou na voz de Edith Piaf. Apaixonado e sem saber nada de Frances, mandou fazer a placa do único jeito que ele sabia falar.

E era lá no fundo, bem escondido, atrás das prateleiras de enlatados que o carteado comia solto. Afinal se jogo de azar é proibido neste país aqui também era. Mas até o delegado Prudêncio aparecia vez em quando para levar uma “fézinha”.

Muita gente graúda desta cidade perdeu dinheiro ali. Até mulher foi apostada na ânsia de sair ganhando. Foi o caso do dono da Botica, que apostou e perdeu. Se pagou a aposta ninguém sabe. Mais que toda vez que ele vai buscar remédio na capital, o Tião Gogozinho fica todo vistoso e mais enfeitado que cavalo de cigano... Ah!Isto é verdade.

O único problema em apostar a esposa é que às vezes ela pode gostar e ai é que mora o perigo.

Dizem que uma noite um morador acordou de madrugada completamente afônico e mal conseguindo falar. Morrendo de dor na garganta foi até a botica, onde o farmacêutico morava em cima e ao bater na porta a mulher do mesmo abriu a janela.

_ O farmacêutico está? Perguntou já quase sem voz.

_ Não. Respondeu bem baixinho a mulher. _Sobe rápido!!!

Neste cassino improvisado o único que nunca botou os pés foi Padre Clovis, e nem por isso deixou de ser indiretamente afetado. Explico por que:

Acontece que os compadres Gumercindo e Aparício perderam uma nota preta naquela noite e sem dinheiro para honrar o empenho decidiram por uma solução desesperada. As prendas e doações para a quermesse junina eram guardadas no porão da igreja. Os dois não pensaram duas vezes. Em dois tempos já estavam La dentro, numa escuridão danada, procurando o baú de oferenda.

Só não contavam com o sono leve do padre que acordou com aquela barulheira toda e sem pestanejar correu á escada de carabina de chumbinho a mão e já gritando:

_ Quem tai?

Após alguns momentos de silencio, um dos compadres gritou: _ Né ninguém não seu padre, é só dois anju!

_ Se é anjo então voa!!! Desafiou o padre já engatilhando o trabuco.

_ Dá não seu padre, nois ainda é fiote. Responderam já ganhando a rua pela mesma janela que entraram e se perdendo na noite de Mirabela da Serra, noturnamente prateada pelo sorriso da lua.

Que JC ilumine!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Prosa de papagaio...

Quente! A tarde caia encalorada em Mirabela da Serra. O sol não arredava o pé. A brisa era tão fraca que nem cosquinhava o sovaco do Jatobá da praça da matriz, para que ventilassse um pouco de aragem, na tentativa funesta de afastar para longe aquela sensação abrasadora.

Foi neste clima, que a noitinha foi chegando e como sempre, para comemorar esta hora santa, mal terminava os últimos acordes da tradicional execução da Ave Maria de Gounod na Rádio Mirabelaserrense, e já a maioria das mentes pensantes daquele emergente município dirigiam-se faceiros a Venda do Olimpio Espanhol.

Entre um aperitivo e outro, divagavam sobre os mais diversos assuntos. O colóquio passeava por entre as últimas do prefeito Idalício Porqueiro dentre varias outras proezas aprontadas por outras ilustres autoridades da região.

Ali se falava de tudo. Política, futebol, política, namoricos, política, causos e não menos, política.

Até Padre Clovis, ao fim da missa dava uma passadinha no empório, com a desculpa marota de descobrir quem cabulou a liturgia, mas que na verdade era para dar dois dedinhos de prosa degustando um cálice de uma boa cachacinha que por lá se encontrava. Não que se intrometesse em assuntos mundanos. Ficava por ali na dele limitando-se a expressar alguns “hum-hum” juntamente com outros tantos “ah-ah”.

O pároco era sempre muito comedido em suas opiniões, porém com certeza, o mais discreto de todos daqueles integrantes sempre fôra o sábio velho Irineu Jurupoca. Ficava ali no canto, assuntando tudo que era falado no distinto recinto, só observando, sem opinar em nada. Ele não era contra nem a favor, muitos antes pelo contrário. Talvez por isso tenha ganhado a alcunha de sábio, pois aprendera que temos duas orelhas e uma boca, portanto devemos escutar mais do que falar.

E foi ele, que de certa feita escutava atento ao causo contado pelo Alfredo, sobre um papagaio de nome Gugu que possuía quando criança.

_ Meus pais e eu morávamos no primeiro andar e meus avôs na parte de cima da casa. Quando precisavam falar comigo, meu avô assoviava um Silvo breve durante alguns segundo e eu sempre respondia: _ Senhor? Era quando meu avô passava o recado - Falava o Alfredo.

_ O engraçado – continuava ele – que certa vez eu saí e meu avô, precisando falar comigo, foi na janela e assoviou. Ao que o papagaio respondeu: _Senhor?

_ Meu avô então passava o recado, porém o papagaio não se manifestava, limitava-se apenas a repetir: _ Senhor?

Depois de certo tempo, meu avô desconfiado virou para minha avó e disse: _ Oh Ruth... Eu acho que to conversando com um papagaio!!!

Ainda estavam todos rindo, quando Irineu Juropoca disparou:

_ Nossas autoridade tão que nem seu papagaio.

_ Como assim? Indagou Alfredo.

_ Nós, o povo vivemos assoviado nossas necessidades e eles como papagaios ficam só repetindo: _ Senhor?

_ E o pior,- arrematou ele - é que muitas vezes não é por desonestidade não. Afinal eles só tão repetindo o que aprenderam com seus antecessores. Né safadeza não...Eles só sabem fazer aquilo... É falta de competência mesmo!

Mais uma vez a juropoca piou e piou bem...

Que JC ilumine!

terça-feira, 1 de março de 2011

Deixa a vida me levar...

Chamam-me Pedro Paulo e tenho muitos planos para meu futuro. Quero estar mais presente na vida de meus filhos, porem em nome de uma vida confortável para eles, sou obrigado á passar mais tempo no trabalho do que com os mesmos. Quando estiverem mais maduros tenho certeza que entenderão, e ai sim, vamos curtir mais uns aos outros...

Estou pensando em uma segunda lua de mel com minha esposa. Alias tenho pensado nisto a bem uns cinco anos mais sempre me vejo obrigado a postergar em detrimento de compromissos empresarias. Ano que vem, pois neste não é possível, vou compensar minha esposa com uma viagem maravilhosa...

Tem um tempão que não vejo meus amigos, alias acho que nem tenho mais. Eles viviam me chamando para um chopp após o expediente, bate-papo, sinuca no final da tarde... Vê se pode? Isto é coisa de desocupado e ainda por cima esbanjador. Essa grana que gastaria lá, eu poupo, afinal ninguém sabe o dia de amanha...

Tempos atrás, ouvi uma palestra de um camarada que afirmava que colhemos apenas aquilo que plantamos. Uma tal lei de ação e reação que provoca para tudo que fazemos uma reação igual e contraria. Ele finalizou dizendo que devemos buscar nossa reforma íntima, pois mudando a nos, melhoramos o mundo. Os argumentos dele fizeram sentido. Tanto sentido que estou tentando tomar coragem a mais de dois anos para começar a praticar estas coisas e começar a pedir perdão a todos que eu feri ou prejudiquei em proveito próprio...

Só me esqueci que o futuro está sendo constantemente transformado em passado, com o presente durando apenas um instante fugaz...

Hoje, faz quinze dias que morri...

Vivi pensando que não ia morrer e na realidade morri sem ter vivido!

Que JC ilumine!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Duas pequenas grandes estórias...

Em seu premiado romance “Encontro em Samarra” de 1934, o escritor John O’Hara traz em sua introdução a estória de um poderoso comerciante de Bagdá que envia seu melhor servo ao mercado para comprar provisões.

Porem o empregado retorna rapidamente pálido e tremendo, dizendo que lá encontrou com a morte e ela lhe fez um gesto ameaçador. Em seguida pega o melhor cavalo e foge em alta velocidade para a cidade de Samarra cerca de 130 km, aonde chegará à noite acreditando assim que a morte não vai encontrá-lo lá.

O comerciante então vai ao mercado em busca da morte, e pede explicações por que ela ameaçou seu melhor servo. Ao passo que ela responde:

- Não foi ameaça e sim surpresa de encontrá-lo aqui nesta hora, pois esta noite tenho um encontro marcado com ele em Samarra.

Apesar de pequeno, este conto é de grande profundidade, pois o que o destino resguarda a cada um não pode ser empurrado para outrem. Apesar de não entendermos a lógica divina, tudo segue uma ordem superior, pois o acaso não existe.

Cada um tem um propósito nesta vida, só que alguns ainda não o encontraram ou por falta de empenho ou pior, por falta de atitude. Vivem de saudosismo do passado ou da esperança que dias melhores virão e esquecem que o único dia que fará a diferença em sua vida é o dia de hoje. Não se pode mudar o começo de uma historia porem alterar o final dela, esta em suas mãos.

Lembre-se que tudo nesta vida tem razão de ser. Contam que Confúcio viajava com seus discípulos quando encontrou numa aldeia um menino muito inteligente e brincando com ele perguntou:

- Que tal se você me ajudasse a acabar com as desigualdades?

- Por que acabar com as desigualdades? – disse o menino. – Se achatarmos as montanhas, os pássaros não terão mais abrigo. Se acabarmos com a profundidade dos rios e dos mares, todos os peixes morrerão. Se o chefe da aldeia tiver a mesma autoridade que o louco, ninguém se entenderá direito. O mundo é muito vasto, deixá-lo com suas diferenças.

Assim também devemos tratar nosso próximo, respeitando o como ele é, pois quem dará conta dele, é ele mesmo. Devemos buscar mudar apenas a nos em uma árdua reforma íntima.

Que JC ilumine!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Melhor não!

De tanto ver o mal triunfar sobre os bons, acho que deveria também me unir a ele para me dar bem neste mundo de maus, aceitando a frase de Nicolau Maquiavel que “aquele que quiser fazer papel de bom neste mundo de maus, esta fadado ao fracasso”, mas... Melhor não!

Devia aceitar o conselho de William Shakespeare de "Devagar! Quem mais corre, mais tropeça!" e parar de correr atrás de meus ideais e crenças, deixando a vida me levar, sem fazer nenhum esforço para impor força sobre os problemas que surgem nesta jornada terrena, mas... Melhor não!

Considerando os numerosos e impunes escândalos de desvios do erário pela horda demoníaca de nossos homens públicos... Considerando o mais alto índice internacional de carga tributária sem nenhuma contra partida de benefícios, endosso a frase atribuída a Charles de Gaulle de que o “Brasil não é um país sério” e acredito que também me devia tornar um ser corrupto e inescrupuloso como nossos políticos, mas... Melhor não!

Muitos companheiros de jornada acreditam que vieram a este mundo a passeio. Deixam que o dinheiro sejam seu Deus. Humilham o próximo achando que o fato de terem sucesso em algum segmento os tornam superiores aquele mais humilde. Outros ufanam de seus conhecimentos e tripudiam sobre os menos esclarecidos, exaltam suas posições superiores na sociedade reclamando ovacionamento pelos menos favorecidos. Ponderando minha condição, careceria agir da mesma forma, mas... Melhor não!

Melhor não! ... Melhor seria que agradecesse a Deus pela saúde que me proporciona a lutar pelos oprimidos. Entendendo que cada um neste mundo tem uma missão. Que a cada um foi dado um talento e que devemos usá-lo em benefício do próximo, pois toda vez que ajudamos a melhorar o mundo, melhoramos também nossa vida. Compreender que as provações que surgem em nosso caminho nos tornam mais fortes e sábios.

O acaso não existe. Nem sorte ou azar. Somente o trabalho é concreto. Ele é fruto do esforço e persistência. E o mais difícil deles é a reforma intima que necessita de muita boa vontade mais resulta na paz interior e em uma consciência tranqüila. Afinal o dinheiro pode comprar uma cama de ouro, não uma serena noite de sono.

Que JC ilumine!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Navigare necesse; vivere non est necesse"

A frase acima (“navegar é preciso, viver não é preciso”) foi dita pelo general romano Pompeu em 106 aC. aos marinheiros amedrontados que recusavam viajar durante a guerra. Posteriormente foi gravada nos portais da Escola Naval de Sagres por ordem de seu fundador o infante D. Henrique por volta de 1417. A princípio pode parecer estranha de se entender, porem o verbo “preciso” não significa necessidade e sim exatidão! Em outras palavras, a vida segue seu próprio destino e não temos como controlá-la. A precisão da navegação é maior que a da vida, já que você não pode calcular como se apaixonar ou usar algo para te guiar conforme seu desejo.

Muitas vezes temos medo de viver novas situações e isto é normal, pois tememos aquilo que não conhecemos. Porem como a criança que perde o medo da escuridão ao acender da lâmpada, devemos acender também a luz das novas experiências em nossas vidas.

Shakespeare disse pela boca de seu personagem Marco Antonio, que “o covarde morre muitas vezes, o bravo uma só”. Então sejamos forte e corajosos o bastante para poder enfrentar cada um o seu destino, mesmo por que ele é inevitavel. Não temos como passar para outro o que esta reservado para nos.

Como citou o sábio árabe Al-Ghazzali, "Vive como quiseres: és mortal. Ama o que quiseres: um dia terás que abandoná-lo. Faze o que quiseres: receberás o equivalente àquilo que terás feito."

Tal como a terceira lei de Newton, para toda ação existe uma reação igual e contrária. Quer um exemplo?
Três viajantes procuraram intensamente um tesouro até encontrá-lo. Depois, sentiram fome, e um dos três foi comprar-lhes comida. No caminho, pensou: "por que não colocar veneno na comida? Assim meus companheiros comerão e morrerão, e ficarei com todo o tesouro".

Entretanto, seus companheiros tomados também pelo egoísmo decidiram matá-lo e dividir entre si sua parte. Quando voltou, assassinaram-no, e comeram a comida envenenada, morrendo em seguida.

Não se esqueça que a semeadura é livre, poderás plantar o que quiseres, mas a colheita é obrigatória, e colheras exatamente aquilo que plantou.

Que JC ilumine!